Contradição e invenção: veja o que disseram os presos por ataque a caminhão

Quatro homens, acusados pela polícia de serem traficantes e de envolvimento na tentativa de assalto a um caminhão de carga, que terminou com um vigilante assassinado, no posto Nova Colina, em Taguatinga, — na terça-feira — tiveram prisões preventivas decretadas pela Justiça, ontem. Cleomar Marcos da Silva, 41, motorista do veículo; Francisco de Assis Bispo de Jesus, 40; José Eraldo Dutra Bezerra, 36; e Sidney Cardosa Passos, 35, foram indiciados por latrocínio (roubo com morte). A preventiva foi decretada após audiência de custódia. Eles devem ser trasladados do Departamento de Polícia Especializada (DPE), nos próximos dias, ao Complexo Penitenciário da Papuda.

Conforme o Correio divulgou, com base em informações dadas por fontes da área de segurança pública, o grupo teria agido em conjunto para abastecer o Distrito Federal com mais de 400kg de skunk — que vinha na carreta. A droga é conhecida como “supermaconha” pelo alto teor de Tetrahidrocanabinol (THC), substância presente na Cannabis — planta da maconha —, que pode causar alterações psíquicas em quem a consome. As autoridades disseram que o entorpecente seria entregue à facção criminosa Comboio do Cão, organização à qual o quarteto, supostamente, está faccionado.

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Segundo investigadores, a transação não foi concluída devido à ação de dois vigilantes armados. Eles acompanhavam o caminhão, onde acreditavam haver apenas televisores, e, aparentemente, ignoravam que junto aos eletrônicos em outras caixas havia droga. Há indícios de que a quadrilha — que testemunhas do atentando afirmam portava fuzis — não esperava uma reação firme da segurança, feita pelos funcionários de uma empresa contratada pelo dono das televisões, e composta por só duas pessoas sem armas potentes. A polícia não considera, até o momento, que prestadora do serviço de entrega e o dono dos aparelhos soubessem do skunk.

Depoimentos prestados pelos quatro investigados na Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) apontaram inconsistências e aumentaram as suspeitas dos investigadores contra esses acusados.

A conduta que mais chamou a atenção, até agora, foi a do motorista. Cleomar Silva. Ele foi contratado para dirigir o caminhão partindo, há poucos dias, de Manaus (AM) rumo ao destino final: o município de Serra (ES). No último domingo, quando passava pelo estado de Tocantins, Silva ligou para a transportadora informando ter sofrido uma tentativa de assaltado, história que a polícia do DF considera ser falsa. No dia desse contato telefônico, informado do ocorrido, o dono das televisões contratou uma equipe de escolta para acompanhar os produtos e garantir a entrega em segurança.

Ao Correio, investigadores revelaram, que, enquanto estava em Tocantins, o condutor teria despertado a atenção dos vigilantes ao ser flagrado conversando com dois homens de modo suspeito. Eles seriam Sidney Passos e José Bezerra. À polícia, Passos disse ser primo de Silva e que foi ao encontro dele, acompanhado de Bezerra, para prestar assistência. Esse familiar, segundo as investigações, ainda teria sido informado pelo parente da tentativa de assalto e que os criminosos o obrigaram a usar drogas.

Por sua vez, Bezerra teria negado, em seu depoimento, envolvimento com qualquer ação ilegal. Confirmou que acompanhou Passos a fim de ajudar Silva e que, após encontrá-lo, pernoitaram em Uruaçu (GO), entre a última segunda-feira e ontem, quando se deu o ataque no DF. Assegurou que se mantiveram em território goiano, saindo da cidade onde dormiram rumo a Pirenópolis (GO), por volta das 6h da manhã, para encontrar a esposa. Bezerra, em suas declarações, teria destacado que no caminho, ele e Passos foram abordados por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e conduzidos à Corpatri. Mas, para o Correio, policiais asseguraram não ter dúvidas do envolvimento dos dois no delito.

Autoridades ligadas ao caso contaram que a facção, mesmo ciente da escolta armada, não recuou e se posicionou no posto Nova Colina, na BR-070, para esperar a carga. O plano era passar a droga do caminhão para os carros em que estavam.

Quando o veículo chegou ao local, em Taguatinga, por volta das 4h da última terça-feira, os dois seguranças viram a movimentação e reagiram a disparos feitos pelo bando que os aguardava e, supostamente, integra o Comboio do Cão, segundo a polícia. O vigilante Ronivon Lima Dias, 41, morreu na hora, atingido por balas. O outro segurança — que não teve o nome divulgado — encontra-se internado, em estado grave, no Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

Após o tiroteio, forças de segurança foram mobilizaram para localizar os agressores e outros suspeitos. A operação, além da prisão do motorista, localizou dois automóveis que, supostamente, foram usados pelo grupo criminoso: um HB20 — encontrado carbonizado, em um terreno baldio, no Sol Nascente— e um Zafira, conduzido por Francisco de Assis Bispo, próximo ao Jóquei Clube, na região da Estrutural. Ele disse que foi contratado para “dar fim” ao carro”.

“O poder de destruição de armas de grosso calibre coloca grandes quantidades de pessoas em risco uma vez que possui um alcance muito maior do que revólveres e pistolas, inclusive criando uma barreira e um distanciamento das forças policiais normais, ou seja, grupos que não têm treinamento ou equipamento que façam frente a esses agressores. Nesse caso falamos de mais de 90% dos profissionais de segurança que atuam na proteção da população. Junto a isso, são armamentos utilizados para grandes operações do crime organizado, como roubos a banco, ataques a carro-forte e roubo de carga, crimes com maior possibilidade de lucro.

Essas armas ingressam pela grande fronteira seca do Brasil com outros países do Mercosul ou por intermédio de regiões portuárias, onde o narcotráfico e facções criminosas se valem do seu grande poder econômico para aliciar grupos envolvidos nesse tipo de contrabando. Esse esquema ilícito sofre impacto, primordialmente, a partir de investimento em inteligência, onde forças estaduais e federais de segurança ainda carecem de maior investimento. Outros pontos de atenção ficam no esvaziamento da economia do crime, dando um golpe no que financia a aquisição desse material bélico; e adicionalmente em melhorias nos investimentos direcionados a inovação tecnológica para a segurança pública , capacitação, treinamento, conexão e intercâmbio Entre as forças de segurança nacionais e internacionais.”

Leonardo Sant’Anna, especialista internacional em segurança e ex-subsecretário de Segurança do DF